Sem aumento real, os menos favorecidos têm o menor poder de compra ante o aumento do preço dos alimentos e bebidas.

No acumulado de 2020, a desaceleração nos preços dos serviços beneficiou as famílias de maior poder aquisitivo, enquanto a alta nos alimentos seguiu pressionando o custo de vida dos mais pobres ao longo do ano. Sendo assim, a inflação das famílias de renda alta foi bem menor que a registrada pelas famílias de menor poder aquisitivo, ficando (1,5%) e (4,5%), segundo dados do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicas –IPEA.

De janeiro a outubro de 2020 houve aumento em itens que pesam na cesta de consumo dos mais pobres: arroz (47,6%), feijão (59,5%), leite (29,5%), óleo de soja (77,7%) e frango (9,2%). Enquanto isso, itens de maior peso para as famílias mais abastadas apresentaram deflações: passagem aérea (-37,3%), transporte por aplicativo (-22,7%), seguro de automóvel (-9,9%) e hospedagem, entre outros.

Dados divulgados pelo IBGE na segunda semana de janeiro mostram que a inflação oficial do Brasil, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),fechou 2020 com alta de4,52%, acima do centro da meta para o ano, que era de 4%, enquanto os preços dos alimentos acumularam aumento de 14,09% no ano. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) utilizado para reajustar o mínimo fechou com alta de 5,45%. O reajuste aplicado ao mínimo pelo Governo foi menor, de 5,26%. Em outras palavras: o reajuste do salário mínimo anunciado para 2021 não cobre a alta da inflação.

Toda semana os produtos estão mais caros e vou tendo que diminuir a minha lista. Parece que a minha aposentadoria só diminui

O professor aposentado David Garbi, de 90 anos faz cortes na lista de compras devido a cada vez que vai ao mercado

Óleo de soja e arroz são os maiores vilões – Um levantamento divulgado pelo Dieese, nesta semana, mostrou que houve aumento do valor da cesta básica em 17 capitais pesquisadas no país. Um dos grandes vilões da inflação desse ano foi o arroz, que foi pressionado pela alta do dólar. A elevada exportação de soja, o carro-chefe da agricultura no país, também impactou no preço do grão e elevou o preço interno de derivados como o óleo de soja. Carne, leite, batata, açúcar e farinha foram outros produtos que pesaram no bolso do consumidor no ano que passou. Entre os alimentos que mais aumentaram os preços, o óleo de soja (103,79%) e o arroz (76,01%) foram dois que dispararam, assim como o leite longa vida (26,93%), as frutas (25,40%), as carnes (17,97%), a batata-inglesa (67,27%) e o tomate (52,76%).

A atual queda no poder de consumo pode ser explicada pela combinação de dois fatores: o aumento elevado de preços dos alimentos durante a pandemia do coronavírus, bem acima da inflação oficial, e o fim da política de valorização do salário mínimo, apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro em 2019, adotada desde 2004 e estabelecida por lei em 2007.

Classe trabalhadora era ouvida – A fórmula, negociada pelas centrais sindicais com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, previa um mecanismo de valorização que repunha as perdas inflacionárias desde o último reajuste, pelo INPC; concedia aumento real de acordo com o crescimento do PIB referente ao ano anterior; e antecipava gradativamente, a cada ano, a data de reajuste, até fixá-la em 1º de janeiro.

Além disso, estabeleceu-se um longo processo de valorização que de 2004 a 2019 significou reajuste acumulado de 283,85%, enquanto a inflação (INPC-IBGE) foi de 120,27%. Em janeiro, terminou a validade da Lei 13.152, de 2015, que fixava essas regras para o piso nacional.

Veja a tabela que compara o poder de compra do salário mínimo desde 2003

Fonte: El País